Já pensou o que faz um vendedor de picolé em dia de chuva? Ou então nesses dias que, sem nenhuma explicação, o sol simplesmente resolve não aparecer? E os dias frios? Certamente não sonha com “um bom lugar pra ler um livro”. Certamente se soubesse onde tenha sol é pra lá que iria. Sonha com o sol.
Com quê sonha o vendedor de picolé quando o presente se vai, à noite? Sonha com o que tem atrás da grande caixa. Ele descobre o caminho que leva até lá. Vai meio disfarçado, não quer parecer que está seguindo o seu presente. E chega numa grande sala. Lá está ele. Tá parecendo novo. Radiante. Quente. E ele entende. Aqui é o lugar de recarregá-lo. Onde será que fica a tomada? Quem liga? Pensa em chamar, mas não quer incomodar ninguém. Sabe que amanhã ele pode voltar.
De repente um barulho. Deve ser o que liga a tomada. E volta correndo. Acorda. Levanta-se. Lá está a grande caixa. No mesmo processo trazendo o presente de novo. O vendedor de picolé sabe tudo sobre sol.
Nunca vendi picolé. Geralmente reclamo do sol e de seu calor. Quente demais. Mas descobri tudo isso em pouco mais de três segundos. Numa manhã de sábado. “sem sol”. Numa cidade com muitos vendedores de picolé: Debaixo da janela dois vendedores. Crianças. Sonhadoras. Cada uma com seu carrinho. Amarelos, os carrinhos. Calados, os meninos.
De repente ouvi uma grande ação de graças: “Aleluia! Aleluia! Aleluia! O sol voltou”. Era o sol. Atrasado, ainda se robustecendo de brilho, calor. Saíram, dirigindo seus carrinhos, sorrindo, gritando para os outros que o sol tinha chegado. Mensageiros do óbvio. Cientistas dos sonhos. Senhores do sol.
“Aleluia! Aleluia! Aleluia! O sol voltou” (frase de uma criança. Pensou que tinham roubado seu presente).
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