O TEÓLOGO NA IGREJA

Pe. Maikel P. Dalbem*


O que vou escrever não traz nenhuma novidade. Inclusive, este assunto foi amplamente, e de maneira muito mais eficiente, trabalhado por outros . Contudo, coloco-me na tarefa reflexiva de ressaltar três pontos que vejo como importantes sobre o papel do teólogo na Igreja. Além de um bom curso, que lhe ensine que a teo-logia não é apenas saber científico, mas sabedoria, um bom teólogo não deve desviar a atenção destes pontos. Portanto, não se trata de um artigo científico, mas de pequenas intuições, como me foi pedido, de alguém que vem trilhando estes caminhos e, aos poucos, a prendendo.

A primeira consciência que deve permear o coração de alguém se que coloca na tarefa de fazer teologia é a realidade de que ele está intrinsecamente ligado a uma comunidade de fé. Uma comunidade que o ultrapassa em passado e futuro e que lhe informa sentido, ampliando seu horizonte experiencial. Portanto, reflexão teo-lógica não nasce do nada. A vocação do teólogo, sujeito ativo do processo reflexivo, nasce necessariamente deste espaço vital no qual se desenvolve. A comunidade de fé é o chão onde o teólogo deve se encontrar enraizado. Ao mesmo tempo, esta, a comunidade, é a massa para a qual ele é chamado a ser fermento com sua reflexão. Dela é chamado e para ela é que se faz a reflexão.

O segundo ponto que desejo ressaltar é a postura de escuta que o teólogo deve ter. Antes de falar ou escre-ver, o teólogo deve ser um profundo ouvinte, pois a escuta é o primeiro estágio do diálogo que se estabelece-rá na reflexão. A tarefa de pensar teologicamente a realidade e a fé supõe uma percepção profunda destas. Ele, o teólogo, deve antes de tudo ser atento ouvinte da realidade e do patrimônio no qual fora inserido como sujeito de fé através da comunidade. Uma escuta orante, pois sua palavra busca ter a eficácia do Espírito que o conduz neste momento da escuta e da posterior reflexão e pronúncia. Não se produz, portanto, teologia de maneira comercial. Não se faz por fazer. É processo lento de meditação e contemplação ativa.
O terceiro e último ponto, talvez, por isso, o mais importante, é a consciência humildade de que seu objeto se revela como Mistério. Não como uma simples charada que, ao ser decifrada, perde seu encanto. Nem como algo de que não se pode falar. É Mistério na medida em que não se esgota. Por mais que se possa dizer, seu objeto nunca se esgota. É sempre palavra dita e a ser dita na medida em que se revela no desenrolar da história humana. Assim, o teólogo não domina seu objeto, mas, porque crê, está em constante relação com ele. Mais ainda, o teólogo faz parte de seu objeto. Não é observador externo, mas encontra-se, como indiví-duo de fé, inserido no interior do próprio objeto sobre o qual ele reflete.

Assim, percebemos que o ato de fazer teologia se insere no interior de uma mística que deve ser profunda-mente comunitária, da escuta e da experiência do Mistério divino. Este é o tripé de atitudes básicas que deve ter aquele que pensa teologia. Ao passo em que aquele que reflete se afasta destas três realidades, perde o essencial.




Para rápida leitura, remeto ao interessante artigo de Clodovis Boff: “Carta a um jovem teólogo”. REB 41 [1981] 426-442.


*Padre redentorista, residindo em Cariacica, E.S. Professor de Fé e revelação, no curso de Teologia do SDNSR.

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