“E o poema se fez carne”

Salomão Rafael Gomes Neto


Uma vez alguém citou uma frase de uma outra pessoa a qual não me lembro o nome e nem mesmo quem citou, mas a frase dizia o seguinte: A beleza salvará o mundo. Isso me aconteceu no ano passado, no início do ano, e então fiquei a me perguntar: como que a beleza salvará o mundo? Tudo era muito estranho para mim. Tudo era muito escuro também. Mas uma luz começou a clarear tudo aquilo, ou melhor, duas luzes: a semana temática filosófica. A semana temática teve o tema: “O bom e o Belo na construção do homem pós-moderno, na qual discutimos questões éticas e estéticas, e um livro de Rubem Alves, com o nome de: Conversas sobre política. O livro, imagino eu, que nem todos o tenham lido, no entanto é um livro que fala sobre política à moda de Jesus, ou seja, por parábolas. Onde o primeiro capítulo fala sobre “jardinagem”. Tudo ficou meio que “teológico-filosófico” pra mim: ética, estética, jardim. Tudo meio que bíblico-metafísico: “e Deus viu que era bom/belo”, jardim do Édem. Tudo muito harmonioso, melódico, e por sinal muito agradável. Tudo ficou muito poético.

Tudo bem, isso foi me passado através do verbo, palavra. E sabemos que “o verbo de Deus que se encarnou no meio de nós” é o bom/belo pastor, como ele mesmo disse, e o grandioso jardineiro/político, qualidades que nós o damos.

Tudo bem, mudemos um pouco o assunto.

Observando um pouco a política mundial e, sobretudo a política brasileira, parece-me que todos andaram lendo “O príncipe” de Maquiavel, e por sinal fizeram uma leitura muito bem feita. Isso faz deles “bons” políticos, embora seja uma política bem diferente daquela que o nazareno tenha feito tempos atrás, pois eles ao invés de jardineiros tornaram-se lenhadores. Ao invés de usarem tesouras para podarem o que por certo deve ser podado, usam machados e motosserras, onde cortam tudo e nada plantam. Isso com as melhores das intenções, ou melhor, com as melhores das imagens, pois o que manda são as aparências, onde a ética e a estética plasmam-se em antônimos e o jardim em desertos, que são maiores que o do Atacama e mais insuportáveis que o do Saara. Mas a desertificação do jardim é até fácil de entender, pois “Quem pensa em minutos nunca pode plantar uma árvore. Uma árvore leva anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las”.

Tudo isso não me é belo nem bom. Nem melódico e muito menos harmonioso. Mas engraçado... Tudo isso chegou á mim pelo verbo ou verbos, por palavras. Então agora compreendo que “não foi o verbo de Deus que se fez carne” e sim "o poema que se fez carne e veio habitar no meio de nós”. Foi aí que eu também compreendi que realmente a “beleza salvou, salva e salvará sempre o mundo”. Pois quando o anjo fez o anúncio á Maria e ela disse “faça-se em mim segundo a sua vontade”, foi nesse momento que a poesia entrou no mundo, e a “Beleza” se encarnou. Pois somente Jesus, belo que é, concebido por palavras harmoniosas, melódicas...enfim, poéticas, poderia ter sido o nosso salvador. “No início a poesia estava com Deus, era Deus e ela, a poesia, estava junto de Deus”. E só Deus, juntamente com sua poesia, poderia salvar o mundo. Realmente a “Beleza nos salva”. Pois a palavra de Deus se “estetificou,” ficou mais bela, tornou-se Jesus.


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